por henry | jan 5, 2016 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Dois estímulos têm afetado o trabalho da auditoria independente, abrindo caminhos para uma grande mudança. O primeiro vem do mercado em geral. Empresas, reguladores, investidores e a sociedade demandam, cada vez mais, que os auditores sejam mais proativos e prospectivos, incorporando inteligência de negócios e tecnologias às suas obrigações regulamentadas, ultrapassando as usuais análises retroativas de demonstrações financeiras.
O segundo é, ao mesmo tempo, estímulo e um dos caminhos que permitirão um avanço nessa prática. Trata-se da ascensão das tecnologias e do vertiginoso volume de dados disponíveis. Esses dois fatores municiam o auditor com novos recursos para seu trabalho diário, permitindo a ele continuar a apoiar decisões de investimento e diretrizes de governança de forma mais determinante na construção de um ambiente de negócios sólido.
Juntas, essas frentes movem a atuação do auditor para um novo momento, que já vem sendo chamado de auditoria do futuro. “Em suma e na prática, empresas e investidores buscam conclusões mais abalizadas e informativas, que os auxiliem a tomar decisões mais inteligentes. Isso requer investimentos significativos e uma mentalidade mais ousada do que a vista nas auditorias do passado”, diz Edimar Facco, sócio-líder de Auditoria da Deloitte no Brasil. “Eis o paradigma a ser quebrado: o olhar do auditor deve se voltar para o futuro.”
Um estudo elaborado pela Deloitte nos Estados Unidos com 250 agentes investidores, executivos financeiros e membros de comitês de auditoria ajudou a traçar um panorama a respeito de como será a auditoria do futuro. Questionados sobre a partir de onde a auditoria se transformará, os profissionais apontaram três focos: a necessidade de análises mais profundas, mais agilidade e eficiência nas entregas e uma abordagem inovadora do trabalho.
Tecnologia e capacitação
O consenso entre os entrevistados é de que os profissionais avancem no mapeamento das mudanças no cenário econômico e de negócios, adaptando-se mais rapidamente. “Há a demanda de que esse trabalho seja cada vez mais amplo, holístico e inovador”, diz Facco. “Nenhuma evolução, porém, ocorrerá sem considerar dois pontos: tecnologia e capacitação. Essas frentes são a base da abordagem cognitiva que define a prática da auditoria do futuro.”
Inovações tecnológicas, como os conceitos de analytics e de data visualization, além de recursos de business intelligence (BI) serão empregados a favor da auditoria. Do ponto de vista da capacitação, o caminho para o auditor do futuro inclui atualização constante e observância às normas. “Não se tratará de ter mais trabalho, mas de trabalhar melhor a partir de um círculo virtuoso em que se conectam plataformas, soluções, recursos e pessoas”, diz Facco.
Os 5Is da auditoria do futuro*
Intelligent Ferramentas e tecnologia levam a experiência da auditoria a um patamar mais elevado.
Intuitive Acessar dados em tempo real torna o processo mais intuitivo e ainda mais transparente.
Informed A execução passa a exigir conhecimentos sobre riscos, regulações, mercados e setores.
Integrated A entrega ultrapassa fronteiras, exigindo também maior interação em um ambiente global.
Insightful Além de fomentar confiança e transparência, também beneficia a tomada de decisões.
*Termos em inglês para inteligente, intuitiva, informada, integrada e esclarecedora.
Fonte: O ESTADO DE S. PAULO – Terça-feira, 05 de janeiro de 2016 | ECONOMIA | B6
por henry | jan 4, 2016 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Turbulência econômica e Lava Jato aumentam a conscientização do empresariado sobre boas práticas de governança
O reforço da percepção de que é preciso mais transparência nos negócios foi uma das principais lições que o ano de 2015 trouxe para os empresários. As crises na economia e na política e os desdobramentos da Operação Lava Jato deixaram executivos em alerta, aumentar a busca por transparência nas relações com clientes, investidores, fornecedores e governos.
Para Camila Araújo, sócia da consultoria Deloitte, “percebeu- se que, quando há ruído na comunicação, é maior o risco de perda de participação no mercado e da confiança de consumidores e investidores, nacionais e internacionais”. Ela destaca a importância que a comunicação das empresas como mercado e com a sociedade adquiriu em um contexto de piora dos níveis de confiança.
Sócia do escritório Souza,Ceson, Barrieu & Flesch Advogados, Fabíola Cammarota considera a regulamentação da Lei Anticorrupção como o principal avanço: “À medida em que se implementam esses mecanismos, a governança se torna mais relevante”, diz.
Já para Roberto Di Cillo, sócio da Alceris Consulting, a verdadeira revolução foi trazida pela delação premiada, sem a qual não seria possível descobrir os esquemas de corrupção revelados pela Lava Jato: “Centenas de milhões de reais já foram recuperados em tempo recorde, e vale dizer que a um relativo baixo custo”.
Gastos. Os tempos de aperto também mostraram a importância de uma boa gestão do caixa, uma vez que o financiamento se tornou mais caro e, ao mesmo tempo, o nível de endividamento bateu recorde. Presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, Idésio Coelho vê uma mudança na visão quanto aos gastos nos negócios: “O grande legado do ano é justamente essa postura mais atenta a custos e mais exigente no cumprimento das normas, algo que já vinha evoluindo, mas ganhou mais força”.
OPINIÕES DOS LEITORES
Camila Araujo (Delloite) – Cenário desafiador vai deixar saldo positivo
Empresas estão mais conscientes da importância de divulgar informações de forma clara, pois é nítido o impacto que os níveis de transparência têm sobre os negócios, seja para o bem, seja para o mal. Percebeu-se que, quando há ruído na comunicação, é maior o risco de perda de participação no mercado e da confiança de consumidores e de investidores. Diversos setores da sociedade estão empenhados em estabelecer um cenário de ética e de transparência para o Brasil, começando pelas empresas, que já estão aprimorando seus processos internos e externos em termos de governança corporativa, pela implementação de instrumentos de conformidade. Com isso, a expectativa é que todos os acontecimentos recentes nos direcionem a um País mais ético.
Roberto Di Cillo (Alceris Consulting) – A verdadeira revolução no combate à corrupção
Para quem acredita que a grande revolução de 2015 foi causada pela Lei Anticorrupção, essa opinião é significativamente contrária à ideia. Na prática, a Lei n. 12.850/13, que versa sobre colaboração premiada, foi o grande agente de mudança. Embora a colaboração premiada já existisse no direito brasileiro antes de 2013, foi a partir da lei que ela passou a servir como ferramenta no combate à corrupção. Com isso, os custos de investigação e sobretudo recuperação de ativos antes despendidos pelo Estado (e, naturalmente, onerando a sociedade) foram em muito reduzidos. Empresários devem estar atentos às modificações na colaboração premiada, para que as empresas das quais sejam sócios incorporem medidas eficazes que inibam a corrupção, independente de previsão expressa em lei.
Fabíola Cammarota (Souza, Cescon, Barrieu&Flesch Advogados) – Implementação da Lei Anticorrupção é o maior legado
A melhoria da governança corporativa é um processo constante e que se renova a cada nova norma editada. Trata-se de um processo irreversível e de construção progressiva, não sendo possível sair de um estágio inicial para o avançado de um dia para o outro. Com o aprimoramento do ambiente de negócios e ferramentas de investigação, o País procura seguir tendências mundiais e alcançar um nível de transparência compatível com seu mercado de capitais, ainda menos maduro que os da Europa e dos EUA. Mas à medida que se implementam mecanismos como a Lei Anticorrupção (12.846/2013) e são impostas consequências ao seu cumprimento, a governança passa a ter relevância cada vez maior. A regulamentação da Lei Anticorrupção, garantindo eficácia para sua aplicação e parâmetros claros ao seu alcance, é um dos legados de 2015.
Edésio Coelho (Instituto dos Auditores Independentes do Brasil) – Empresários aprenderam a reduzir custos para sobreviver
O ano de 2015 trouxe lições para os empresários, principalmente em relação à transparência e à redução de custos desnecessários. Com a crise, as empresas passaram a cortar cada vez mais esses gastos em suas operações para preservar sua sobrevivência, seja abrindo mão de negócios que não são atividade principal ou demitindo. Um dos reflexos da Lava Jato foi também um despertar para a ética e para a transparência. As empresas estão cada vez mais atentas a funcionários, fornecedores e prestadores de serviços para evitar irregularidades, o que gera um efeito positivo em todo o mercado. O grande legado é justamente essa postura mais atenta a custos e mais exigente no cumprimento das normas, algo que já vinha evoluindo, mas ganhou ainda mais fôlego.
Fonte: O ESTADO DE S. PAULO – Terça-feira, 15 de dezembro de 2015 | ECONOMIA | B5
por Uires Tapajós | nov 11, 2015 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Buscar a eficiência operacional deveria ser um mantra em qualquer companhia – independentemente do cenário do mercado. Não há como construir negócios sustentáveis sem ela. É comum, porém, que as empresas voltem a atenção a essa necessidade apenas em momentos mais difíceis, tomando decisões que priorizem o agora e não o longo prazo. Os planos mais sólidos são os que ampliam a visão da companhia, levando-a do foco nos processos internos até a relação com os clientes – que, em cenários incertos, também demandam novas soluções. “É preciso atendê-los bem, com produtos e serviços adequados às suas necessidades. Para isso, deve-se disponibilizar uma estrutura que facilite sua vida”, diz Cláudio Soutto, sócio da área de Consultoria da Deloitte e especialista em Tecnologia. A tecnologia é uma grande aliada. “Ela ajuda a alcançar a eficiência operacional pela automatização de processos, geração e análise de informações em tempo real e agilidade no atendimento”, diz Soutto. Há, claro, cuidados a tomar, como não perder de vista a necessidade do cliente e não gerar mais complexidade ao buscar eficiência.
Uma nova mentalidade
O uso da tecnologia na busca pela eficiência operacional não é algo novo – mas tampouco é uma postura consolidada. “No Brasil, as companhias estão buscando conhecer melhor o tema e seguir tendências, principalmente as multinacionais, que avançam mais rapidamente em função das orientações da matriz”, diz Soutto.
Segundo ele, grande parte das empresas não compreende bem os benefícios e vantagens dessa disciplina nos negócios. “O investimento é ainda modesto, sobretudo em função do momento atual”, complementa. Redução nos recursos financeiros disponíveis, no entanto, não pode ser uma barreira – mas, sim, incentivo a uma postura mais criativa. “Diante da dificuldade em investir, é preciso identificar como realocar recursos e garantir liquidez”, argumenta.
A ação em duas frentes
O grande benefício da tecnologia como propulsora da eficiência operacional é que, por meio dela, é possível alcançar os dois objetivos de forma simultânea: maximizar o uso de recursos financeiros e aprimorar a oferta e o suporte ao cliente. Nesse ponto, alguns caminhos possíveis são:
Infraestrutura.
Continua sendo a base de toda estrutura tecnológica. Modelos alternativos como o cloud computing, por exemplo, podem trazer mais eficiência e adaptabilidade.
Sistemas.
Precisam ser mais rápidos de implementar, garantindo agilidade, e desenvolvidos de acordo com a necessidade do cliente. A aquisição de licenças em forma de serviços, usando a infraestrutura de cloud computing, tem sido uma boa alternativa para aumentar a agilidade de implementação.
Dados.
As informações obtidas têm de permitir uma análise preditiva, com correlações e simulações que levem a um posicionamento mais claro a respeito do perfil de consumo dos clientes, dados de mercado e investimentos a serem feitos.
Mobilidade.
Há dispositivos e aplicativos que monitoram, por sensores, produtos e serviços e seus percursos ao longo da cadeia. “Calcula-se hoje que já são 11 bilhões de sensores no mundo, uma enorme massa de dados. O grande diferencial está em acertar na hora de empregar tanta informação”, diz Soutto.
Fonte: Estadão – 10/nov/15
por Uires Tapajós | nov 11, 2015 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Para Leonardo Pereira, punições deveriam ser proporcionais ao tamanho das empresas; executivo defende aumento do teto para R$ 500 milhões
O que precisa mudar no Novo Mercado?
A regra para a saída deve ser discutida. Não pode ser fácil para uma empresa deixar o Novo Mercado. Algumas poucas têm pensado que não vale a pena continuar no segmento por conta de seus ciclos de performance. Pode-se até ter uma razão para sair, mas essa razão tem que ser muito discutida.
Para quando são os efeitos práticos das mudanças no Novo Mercado?
Haverá uma fase de discussão e nós esperamos que ela esteja bastante adiantada na segunda metade do ano que vem.
A presença das empresas X no segmento gerou questionamentos. Como evitar esses casos?
Mesmo com a melhor supervisão, sempre haverá problemas. O importante é que as penas desencorajem a má conduta.
Hoje isso não acontece?
As penas estão desatualizadas em relação ao tamanho das empresas. Em um projeto que tramita em Brasília, procuramos ampliar esse teto de R$ 500 mil para R$ 500 milhões.
A governança corporativa falhou no Brasil?
Em alguns casos, sim, por não ter sido implementada. Se há um manual que não é implementado, então esse manual não serve para nada.
Nas empresas, há resistência a mudanças?
Não vejo resistência. Essa é uma questão cultural, é preciso capilarizar as discussões e fazer com que as pessoas entendam melhor o que elas estão fazendo. Também é preciso que as empresas tenham controles internos mais fortes.
Então, o que é preciso?
Para começar, as regras devem ser interpretadas de forma simples e correta. O alto escalão das empresas também precisa se comprometer para que os conceitos se propaguem. O que nós estamos vivendo faz parte do processo de desenvolvimento da governança. Essa discussão, na nossa sociedade e em outras no mundo, é positiva e faz parte dessa evolução.
Isso é algo que falta no ambiente empresarial?
Eu não diria que falta, mas temos que nos conscientizar de forma diferente. Passamos por um processo de implementação dessas estruturas, mas ainda estamos muito formais. Temos que partir para a substância.
Fonte: Estadão – http://economia.estadao.com.br/noticias/governanca,nova-noticia,1793567 – 10/nov/15
por Uires Tapajós | nov 11, 2015 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Acionistas têm hoje maior acesso a dados e mais mecanismos de proteção do que no passado
Apesar da percepção geral de que a governança corporativa no Brasil ainda não foi realmente incorporada pela maioria das companhias, houve avanços relevantes nessa seara. Um deles, considerado o mais expressivo por membros da academia e de instituições ligadas ao setor, foi o aumento da transparência das empresas, exemplificado com a maior divulgação de fatos relevantes, do formulário de referência e do tratamento dado aos conflitos de interesses entre acionistas.
“Se compararmos relatórios de uma empresa há 20 anos e atualmente, impressiona como eles ficaram mais transparentes”, exemplifica Sandra Guerra, presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
Para o sócio-fundador da Direzione Consultoria e professor da USP, Alexandre Di Miceli, o ativismo dos próprios acionistas forçou o empresariado a repensar as práticas de governança. “Eles ficaram mais exigentes e passaram a ter uma atuação mais ativa em relação às suas companhias”, analisa.
O surgimento do Novo Mercado também promoveu a busca por maior transparência perante os minoritários. Lançado pela BM&FBovespa em 2000, o segmento passou a reunir apenas as companhias que vão além das exigências legais das empresas de capital aberto e virou uma espécie de referência – apesar de hoje já estar defasado e precisar de uma reforma, segundo apontam os especialistas. “Hoje não se cogita ir para a Bolsa e não se listar no Novo Mercado”, avalia Leonardo Pereira, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Tal nível de transparência só foi alcançado por causa do avanço na regulação do mercado de capitais, orientada pelas instruções normativas da CVM. A Instrução CVM 480, por exemplo, tornou mandatório que todas as empresas de capital aberto, ou que queiram fazer uma oferta inicial de ações, entreguem um formulário de referência à comissão. No documento constam informações precisas e completas sobre a situação econômica da companhia, bem como os riscos de suas atividades e os valores mobiliários que ela emite. A papelada deve ser reeditada anualmente ou sempre que houver alguma alteração que impacte a tomada de decisão dos acionistas.
Conflitos de interesse. A criação do Comitê de Aquisições e Fusões (CAF) também contribuiu para o amadurecimento da governança no País. Lançado em 2012, o CAF nasceu para garantir o cumprimento das condições equitativas em situações em que haja conflitos de interesse, como, por exemplo, numa reorganização societária.
Já a Lei Anticorrupção, em vigor desde 2014, fecha a lista de principais avanços. A nova legislação serviu de estímulo para que mecanismos de controle fossem implementados nas empresas, mas os especialistas são enfáticos ao dizer que os efeitos práticos só aparecerão nos próximos anos.
Fonte: Estadão – 10/nov/15
por Uires Tapajós | nov 11, 2015 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Duas décadas após o conceito de boas práticas corporativas surgir no Brasil, empresas lutam para mudar cultura e tirar valores do papel
O movimento que impulsionou a governança corporativa no Brasil completa 20 anos este mês e passa por fortes questionamentos. Também nos Estados Unidos, berço do conceito, há discussões sobre como tornar as práticas mais efetivas, já que elas não foram suficientes para evitar graves crises e escândalos corporativos.
“Muitas companhias adotaram a governança apenas como uma ferramenta de marketing para serem mais bem avaliadas no mercado”, diz o professor da USP Alexandre Di Miceli da Silveira. Pesquisador do tema há 15 anos, ele afirma que as empresas ainda enxergam a governança como uma lista de práticas a seguir, mas que o objetivo deveria ser absorver o conceito por trás dela. “A interpretação do tema tem de ser revista”, defende.
Também neste mês, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) lança a quinta edição de seu código, reconhecendo a necessidade de revisão de recomendações feitas ao mercado. Hoje uma das maiores instituições que tratam do tema na América Latina, o instituto foi o marco inicial desse movimento no País.
“O novo código é muito menos prescritivo do que costumava ser”, diz a presidente do conselho de administração do IBGC, Sandra Guerra. A executiva explica que as diretrizes, de adesão voluntária, agora se baseiam em conceitos amplos e buscam tornar mais simples a aplicação dos princípios.
A ideia de que a boa governança atrairia investimentos e faria as empresas valerem mais ganhou força a partir do “boom” do mercado de capitais brasileiro, em 2007. Transparência, equidade, responsabilidade corporativa e prestação de contas viraram palavras de ordem dentro das empresas de capital aberto, mas a teoria ficou distante da prática. “Ainda precisamos fazer a transição da governança ‘do parecer’ para a governança ‘do ser’”, diz Sandra.
Mercado pequeno. O estágio de desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil é um fator de peso nesse quadro. Hoje, são cerca de 500 as companhias brasileiras listadas na BM&FBovespa, em meio a um universo de mais de 16 milhões de empresas ativas registradas pela Receita Federal, a maioria de pequeno e médio portes.
“O mercado de capitais não é reconhecido como entidade representativa em Brasília. É natural para um político não se preocupar com ele”, afirma o presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Mauro Cunha.
Outro desafio é colocar as normas em prática. Ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana alerta: “É preciso alterar a forma de fazer as regras valerem”. A executiva explica que os recursos às punições aplicadas pela xerife do mercado de capitais demoram a ser julgados e muitas vezes não são apreciados por especialistas, o que atrasa os processos.
Setor público. A falta de exemplo dos agentes públicos, muitos deles envolvidos em corrupção, torna o desafio da governança ainda maior no Brasil. A Operação Lava Jato evidencia essas falhas, mas especialistas ponderam que esse é o momento para mudanças: “É hora de promovermos uma virada na governança das empresas”, defende Sandra.
As investigações na Petrobrás também serviram para jogar luz sobre as estatais. A movimentação resultou, entre outras iniciativas, na criação do Projeto de Lei 555/2015, a chamada Lei das Estatais. O texto aprimora as regras para essas companhias, mas só será discutido no Senado no ano que vem.
A BMF&Bovespa também lançou em setembro um código de governança para empresas de capital misto, mas ainda não houve adesão, pois nenhuma companhia atende aos requisitos. “Adaptar a governança corporativa nessas empresas é um desafio em todo o mundo”, pondera a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mariana Pargendler.
Fonte: Estadão – 10/nov/15