por henry | jul 26, 2016 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Empresas precisam ficar atentas às pontas de toda a operação, incluindo a conduta dos seus parceiros
Com o amadurecimento dos programas de compliance no Brasil, as empresas começam a perceber que não basta somente criar uma rotina de boas práticas. É preciso também atualizar continuamente os controles e estar atento aos riscos de toda a cadeia, incluindo a conduta dos parceiros comerciais.
Mas essa prática ainda precisa se consolidar no Brasil. Um levantamento da Thomson Reuters, com cerca de 300 empresários brasileiros, mostrou que apenas 20% dos executivos consideram o programa KYC (know your costumer – ou conheça seu cliente, na versão em português) como uma política eficiente.
Antes destinado apenas aos cuidados com os consumidores, o termo também vem sendo utilizado para frisar a importância de criar controles para o fechamento de parcerias.
Satoshi Fukuura, CEO da Siscom, empresa de recuperação de crédito, considera que faltam regras específicas para esse trato com terceiros. Segundo ele, em seu segmento essa prática ainda está em desenvolvimento, mas já é uma exigência dos clientes.
O setor, no entanto, importa boas práticas do sistema financeiro, que tem regulamentações rígidas. “Muitas regras seguidas por bancos e instituições financeiras também são aplicadas às terceirizadas.”
Histórico profissional
‘Know your costumer’ (conheça seu cliente) é o processo de checagem do consumidor ou parceiros para evitar que a empresa seja usada para práticas ilícitas ou impróprias.
Em outros setores, as empresas também estão se adaptando para estabelecer contratos que garantam a legalidade e a credibilidade do negócio.
No varejo de moda, a C&A é pioneira nesse ramo. Há 20 anos, a loja tem um código de conduta para fornecedores, que inclui garantias de práticas trabalhistas adequadas, cuidados com o meio ambiente e ações anticorrupção.
“Em 2006, estruturamos um sistema de monitoramento da rede de fornecedores, que já realizou mais de 13 mil auditorias”, destacou o vice-presidente de operações e marketing da varejista, Elio Silva.
A Unilever também garante que a verificação de seus parceiros é uma prática comum. Para o vice-presidente jurídico Newman Debs, essa é uma obrigação diante do cliente.
“É básico saber se algum fornecedor tem trabalho escravo ou infantil, ou ainda se fere a legislação ambiental, por exemplo,”, defendeu.
No segmento de saúde, a solução foi reunir todos os entes da cadeia para discussão dos problemas, segundo Denis Jacob e Antonio Rita, da multinacional BD.
“A atuação conjunta reforça a relação estratégica e institucional, com benefícios de longo prazo para empresas e sociedade”, afirmaram.
OPINIÃO DOS LÍDERES
Denis Jacob e Antonio Rita – Compliance comercial da BD
Discussão de problemas reforça a relação estratégica
O desenvolvimento de mercados competitivos exige uma reunião de fatores, como um arcabouço jurídico mais rigoroso e coercitivo, uma indústria mais preparada e atuante e uma sociedade mais exigente com padrões legais e éticos. Na área da saúde e equipamentos médicos, os membros estão buscando desenvolver um ambiente de negócios mais transparente e ético em benefício de todos, mas principalmente para o paciente, o usuário final dos produtos e serviços da área. Cada vez mais laboratórios, hospitais, distribuidores e clientes procuram as grandes empresas multinacionais pioneiras em programas de compliance no Brasil para receber orientação e compartilhar melhores práticas e experiências. A atuação e a discussão conjunta de problemas reforça a relação estratégica e institucional, com benefícios de longo prazo para empresas e sociedade.
Satoshi Fukuura – CEO da Siscom
Regulamentações rígidas são exigências dos clientes
Não são todas as áreas que contam com uma legislação de compliance específica. Em relação à recuperação de crédito, por exemplo, esta prática ainda está em desenvolvimento. Não há normas de condutas específicas entre as empresas, mas muitas práticas estão ligadas a regulamentações rígidas que vêm sendo exigidas pelos clientes. Muitas regras seguidas por bancos e instituições financeiras também são aplicadas às terceirizadas, já que boa parte dos saldos em cobrança está em suas mãos. Para isso, a prestadora de serviços se compromete com assuntos relacionados à segurança da informação, conflito de interesses e cláusulas anticorrupção. Os próprios contratantes criam também mecanismos de controle como o acompanhamento de balanços e movimentações financeiras das recuperadoras de crédito devem, até mesmo, estar cientes da relação da empresa com seus colaboradores e fornecedores.
Elio Silva – Vice-presidente de operações e marketing da C&A
Valor oferecido ao cliente também deve estar na produção
Diante de uma indústria que emprega mais de 1 milhão de pessoas no Brasil, fica claro nosso papel em influenciar e liderar importantes transformações na moda. Em 1996, criamos nosso primeiro código de conduta para fornecimento de mercadorias, cuja aceitação é obrigatória em contrato, para garantir práticas trabalhistas adequadas. Em 2015, o código foi atualizado e reforçou temas como conformidade legal, cuidados com o meio ambiente e práticas anticorrupção. Para assegurar o cumprimento das normas, em 2006, estruturamos um sistema de monitoramento da rede de fornecimento, que, até agora, realizou mais de 13 mil auditorias e contribuiu para a melhoria dos processos de gestão e do alinhamento aos princípios da empresa. Nesse sentido, também formamos a equipe de auditores para que exerçam o importante papel de agentes de mudança durante os contatos com nossos fornecedores.
Newman Debs – Vice-presidente jurídico da Unilever no Brasil
Integridade é preceito básico para escolha de fornecedores
A verificação dos nossos fornecedores diretos de matéria-prima e embalagens é uma rotina comum, em relação à condução de seus negócios dentro das leis e com integridade, bem como à adequação de suas práticas de cultivo e produção ao nosso Código de Agricultura Sustentável. O cumprimento destas normas impacta diretamente na política de crescimento sustentável da empresa. Quando nos propomos a levar produtos que melhorem a vida das pessoas, é básico saber se algum fornecedor utiliza trabalho escravo ou infantil, ou ainda se fere a legislação ambiental, por exemplo. Essas políticas são públicas e informadas logo no primeiro contato. Munimos nossos funcionários de todas essas informações, pois acreditamos que eles têm um papel na disseminação e engajamento do nosso Plano de Sustentabilidade junto aos nossos fornecedores e clientes.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO | GOVERNANÇA CORPORATIVA | B4 Economia TERÇA-FEIRA, 26 DE JULHO DE 2016
por henry | jul 20, 2016 | GRC | Governança, Risco & Conformidade
Combate à corrupção e divulgação de resultados estão entre os desafios, diz Transparência Internacional; Embraer e Natura são as mais bem colocadas
Jamil Chade | CORRESPONDENTE / GENEBRA
As principais multinacionais brasileiras – inclusive aquelas investigadas na Operação Lava Jato – são reprovadas no que se refere à transparência e nos mecanismos anticorrupção. Isso é o que revela um levantamento publicado hoje pela entidade Transparência Internacional, que avalia as cem maiores companhias de mercados emergentes e constata que o setor privado brasileiro pratica baixos níveis de transparência.
Em comparação aos resultados publicados em 2013 pela mesma entidade, algumas das empresas nacionais subiram no ranking, com ações para mostrar transparência como respostas às pressões da Lava Jato. Mas, ainda assim, demonstraram falhas no que se refere aos controles internos.
O estudo avalia as seguintes questões: a comunicação de seu programa anticorrupção, a divulgação de suas estruturas e holdings e a divulgação das principais informações financeiras. Para avaliar, a entidade pontua de zero a dez as empresas. A liderança ficou com as indianas Bharli Airtel e Tata.
A Embraer é a única brasileira com uma pontuação que garantiria “aprovação” no ranking. Ainda assim, fica apenas com 5,6 pontos dos dez possíveis e na 19.ª colocação entre todas as emergentes. Em 2013, ela era apenas a 42.ª colocada.
No critério sobre a divulgação de um programa anticorrupção, a Embraer ficou com 92% da pontuação máxima. Na divulgação da estrutura e holdings, a taxa chegou a 75%. Mas tirou zero no que se refere à divulgação de informações financeiras por cada país onde atua.
A segunda brasileira é a Natura, que aparece com 4,7 pontos. Sua pontuação foi de 65% no critério de apresentação de programas anticorrupção e 75% na transparência de sua estrutura. Mas também ficou com zero na divulgação de seu resultado por país de atuação.
A terceira empresa brasileira é a BRF, com 4,4 pontos. Ela também zerou ao tratar dos resultados. Mas atingiu 58% da nota máxima na divulgação de seu informe sobre medidas anticorrupção e 75% na transparência da estrutura. Em seguida, vieram Marcopolo (4,4 pontos), Gerdaeu e Votorantim (ambas com 3,8 pontos).
Lava Jato. Envolvida diretamente na Lava Jato, a Odebrecht aparece com apenas 3,6 pontos, na posição 50 entre as emergentes. Ela somou 77% dos pontos por ter divulgado pela primeira vez um programa anticorrupção. Mas ainda registrou meros 19% dos pontos na divulgação de sua estrutura de propriedade. No que se refere aos informes nacionais, a pontuação foi de apenas 12%.
Entre as 50 empresas com pior classificação, a lista é dominada pelos chineses. Mas não faltam as brasileiras. A JBS, por exemplo, somou meros 3,1 pontos, prejudicada principalmente por ter registrado apenas 35% da pontuação máxima no que se refere à divulgação de um plano anticorrupção. Nessa lista ainda estão Weg (3 pontos) e Camargo Corrêa (2,1). A pior colocada entre as nacionais foi a Coteminas (1,1 ponto).
A Petrobrás não aparece na classificação. Em outro informe da entidade, de 2014, a estatal recebeu apenas 4,6 pontos.
Em baixa. A Transparência aponta que os resultados gerais das empresas “ permanecem ruins”. Ainda que companhias privadas tenham tido melhor resultado do que as estatais, a pontuação média para as cem empresas avaliadas foi de 3,4. Em 2013, essa pontuação era de 3,8.
A entidade ainda aponta como a corrupção também não faz sentido econômico – e cita a Petrobrás como exemplo. “No Brasil, as consequências do escândalo da Petrobrás custaram a esta empresa petrolífera estatal não só sua reputação, como lucros cessantes estimados em US$ 1,5 bilhão.”
Fonte: O ESTADO DE S. PAULO – SEGUNDA-FEIRA, 11 DE JULHO DE 2016 Economia B3