Empresas precisam ficar atentas às pontas de toda a operação, incluindo a conduta dos seus parceiros 

Com o amadurecimento dos programas de compliance no Brasil, as empresas começam a perceber que não basta somente criar uma rotina de boas práticas. É preciso também atualizar continuamente os controles e estar atento aos riscos de toda a cadeia, incluindo a conduta dos parceiros comerciais.

Mas essa prática ainda precisa se consolidar no Brasil. Um levantamento da Thomson Reuters, com cerca de 300 empresários brasileiros, mostrou que apenas 20% dos executivos consideram o programa KYC (know your costumer – ou conheça seu cliente, na versão em português) como uma política eficiente.

Antes destinado apenas aos cuidados com os consumidores, o termo também vem sendo utilizado para frisar a importância de criar controles para o fechamento de parcerias.

Satoshi Fukuura, CEO da Siscom, empresa de recuperação de crédito, considera que faltam regras específicas para esse trato com terceiros. Segundo ele, em seu segmento essa prática ainda está em desenvolvimento, mas já é uma exigência dos clientes.

O setor, no entanto, importa boas práticas do sistema financeiro, que tem regulamentações rígidas. “Muitas regras seguidas por bancos e instituições financeiras também são aplicadas às terceirizadas.”

Histórico profissional
‘Know your costumer’ (conheça seu cliente) é o processo de checagem do consumidor ou parceiros para evitar que a empresa seja usada para práticas ilícitas ou impróprias.

Em outros setores, as empresas também estão se adaptando   para estabelecer contratos que garantam a legalidade e a credibilidade do negócio.

No varejo de moda, a C&A é pioneira nesse ramo. Há 20 anos, a loja tem um código de conduta para fornecedores, que inclui garantias de práticas trabalhistas adequadas, cuidados com o meio ambiente e ações anticorrupção.

“Em 2006, estruturamos um sistema de monitoramento da rede de fornecedores, que já realizou mais de 13 mil auditorias”, destacou o vice-presidente de operações e marketing da varejista, Elio Silva.

A Unilever também garante que a verificação de seus parceiros é uma prática comum. Para o vice-presidente jurídico Newman Debs, essa é uma obrigação diante do cliente.

“É básico saber se algum fornecedor tem trabalho escravo ou infantil, ou ainda se fere a legislação ambiental, por exemplo,”, defendeu.

No segmento de saúde, a solução foi reunir todos os entes da cadeia para discussão dos problemas, segundo Denis Jacob e Antonio Rita, da multinacional BD.

“A atuação conjunta reforça a relação estratégica e institucional, com benefícios de longo prazo para empresas e sociedade”, afirmaram.

OPINIÃO DOS LÍDERES

Denis Jacob e Antonio Rita – Compliance comercial da BD

Discussão de problemas reforça a relação estratégica

O desenvolvimento de mercados competitivos exige uma reunião de fatores, como um arcabouço jurídico mais rigoroso e coercitivo, uma indústria mais preparada e atuante e uma sociedade mais exigente com padrões legais e éticos. Na área da saúde e equipamentos médicos, os membros estão buscando desenvolver um ambiente de negócios mais transparente e ético em benefício de todos, mas principalmente para o paciente, o usuário final dos produtos e serviços da área. Cada vez mais laboratórios, hospitais, distribuidores e clientes procuram as grandes empresas multinacionais pioneiras em programas de compliance no Brasil para receber orientação e compartilhar melhores práticas e experiências. A atuação e a discussão conjunta de problemas reforça a relação estratégica e institucional, com benefícios de longo prazo para empresas e sociedade.


Satoshi Fukuura – CEO da Siscom

Regulamentações rígidas são exigências dos clientes

Não são todas as áreas que contam com uma legislação de compliance específica. Em relação à recuperação de crédito, por exemplo, esta prática ainda está em desenvolvimento. Não há normas de condutas específicas entre as empresas, mas muitas práticas estão ligadas a regulamentações rígidas que vêm sendo exigidas pelos clientes. Muitas regras seguidas por bancos e instituições financeiras também são aplicadas às terceirizadas, já que boa parte dos saldos em cobrança está em suas mãos. Para isso, a prestadora de serviços se compromete com assuntos relacionados à segurança da informação, conflito de interesses e cláusulas anticorrupção. Os próprios contratantes criam também mecanismos de controle como o acompanhamento de balanços e movimentações financeiras das recuperadoras de crédito devem, até mesmo, estar cientes da relação da empresa com seus colaboradores e fornecedores.


Elio Silva – Vice-presidente de operações e marketing da C&A

Valor oferecido ao cliente também deve estar na produção

Diante de uma indústria que emprega  mais de 1 milhão de pessoas no Brasil,  fica claro nosso papel em influenciar e  liderar importantes transformações na moda.  Em 1996, criamos nosso primeiro código de  conduta para fornecimento de mercadorias,  cuja aceitação é obrigatória em contrato, para  garantir práticas trabalhistas adequadas. Em  2015, o código foi atualizado e reforçou temas  como conformidade legal, cuidados com o  meio ambiente e práticas anticorrupção.  Para assegurar o cumprimento das normas,  em 2006, estruturamos um sistema de monitoramento  da rede de fornecimento, que, até agora,  realizou mais de 13 mil auditorias e contribuiu  para a melhoria dos processos de gestão e  do alinhamento aos princípios da empresa.  Nesse sentido, também formamos a equipe  de auditores para que exerçam o importante  papel de agentes de mudança durante os contatos  com nossos fornecedores.


Newman Debs – Vice-presidente jurídico da Unilever no Brasil

Integridade é preceito básico para escolha de fornecedores

A verificação dos nossos fornecedores  diretos de matéria-prima e embalagens  é uma rotina comum, em relação  à condução de seus negócios dentro das  leis e com integridade, bem como à adequação  de suas práticas de cultivo e produção  ao nosso Código de Agricultura Sustentável.  O cumprimento destas normas impacta  diretamente na política de crescimento sustentável  da empresa. Quando nos propomos  a levar produtos que melhorem a vida das  pessoas, é básico saber se algum fornecedor  utiliza trabalho escravo ou infantil, ou ainda  se fere a legislação ambiental, por exemplo.  Essas políticas são públicas e informadas  logo no primeiro contato.  Munimos nossos funcionários de todas  essas informações, pois acreditamos que  eles têm um papel na disseminação e engajamento  do nosso Plano de Sustentabilidade  junto aos nossos fornecedores e clientes.


FONTE: O ESTADO DE S. PAULO | GOVERNANÇA CORPORATIVA | B4 Economia TERÇA-FEIRA, 26 DE JULHO DE 2016

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