Boas práticas são ferramenta para companhias manterem o crescimento diante de um ambiente econômico desafiador.
Empresários enxergam o ano de 2016 como mais uma página difícil a ser virada na história da economia brasileira. Com o agravamento da crise política no País e o ambiente mais desafiador para os negócios, os olhos se voltam para a otimização das operações das empresas. Nesse contexto, o reforço das boas práticas de gestão se torna crucial para encarar a turbulência.
O conselheiro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) Robert Juenemann defende uma integração maior entre os órgãos da alta administração para melhorar o desempenho das companhias: “2016 será um ano de muito trabalho e de busca de mais sintonia entre os conselhos, diretorias e acionistas”, afirma.
No agronegócio, a gestão é determinante para o desempenho das empresas: “A inovação está ligada ao melhor uso da tecnologia, dos recursos humanos, do planejamento e da forma de condução dos processos”, diz o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho.
Já para o presidente da FecomercioSP, Abram Szajman, as medidas estruturais são a base para a melhora no cenário: “Se houver avanços nas reformas estruturais, na redução da burocracia e da carga tributária, estará aberto o caminho para a recuperação da confiança perdida e a reversão do ciclo recessivo atual. O que depende muito mais da esfera política do que da econômica”, defende.
Pequenas empresas. O presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, afirma que não é possível falar em boas práticas enquanto não houver um ambiente saudável em que empresas menores possam desenvolver seu negócio. Ele defende a liberação de crédito para os pequenos como uma forma de fazer esses empresários “perderem o medo de crescer”, o que pode impulsionar a atividade econômica: “Como é possível falar em governança em uma empresa para a qual é negado o oxigênio?”, questiona.
OPINIÕES DOS LÍDERES
Robert Juenemann – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
Integração na alta cúpula e retenção de dados são tendência
A governança continua sendo uma jornada. Assim, 2016 será um ano de muito trabalho e de busca de mais sintonia entre os conselhos, diretorias e acionistas, de modo a atingir um alinhamento de decisões benéficas para as empresas. 2015 deixou lições importantes e temas que devem estar no cardápio dos conselhos. A definição de uma política de retenção e utilização de dados é um deles, já que permite à empresa demonstrar a robustez – ou não – de seus processos, da motivação para a tomada de decisões. Desafio igualmente importante é fazer com que órgãos da alta gestão sejam mais integrados. As estruturas devem estar presentes, mas o mais importante é que elas funcionem e que entreguem a todas as partes interessadas a agregação de valor.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho – Associação Brasileira do Agronegócio
Gestão será o grande diferencial para o agronegócio em 2016
É justamente nos anos mais difíceis que a boa gestão aparece com mais intensidade. Certamente, em 2016 os resultados vão qualificar ainda mais aqueles que têm uma boa operação. Será um ano difícil, pois ainda não temos a menor ideia do que pode acontecer com a governança do País. Por isso, ela será um diferencial para o setor. No agronegócio, o mais importante é o que vem antes do processo industrial. O maior peso é justamente o da produção agrícola, seja qual for a cultura. Assim, tem-se basicamente uma indústria semelhante, mas a maior variabilidade está nos custos das matérias-primas, os verdadeiros diferenciais de competitividade. Assim, a inovação está ligada ao melhor uso da tecnologia, dos recursos humanos, do planejamento e da forma de condução dos processos como um todo.
Guilherme Afif Domingos – Sebrae
Empresas menores precisam de mais oxigênio
O grande problema das empresas menores está na dificuldade de obter crédito. Assim, elas se financiam com fornecedores e utilizam até cheque especial e cartão de crédito, modalidades com juros mais altos. Como é possível falar em governança em uma empresa para a qual é negado o oxigênio? É preciso liberar o compulsório dos bancos para injetar mais dinheiro na economia. Também falta concorrência ao sistema financeiro nacional e, no médio prazo, uma medida para melhorara situação seria criar uma empresa para emprestar ao pequeno empresário. Essas medidas visam a tirar o medo do crescimento, que torna a empresa parcialmente informal e prejudica muito a governança, pois impede que a companhia seja transparente para o mercado. Antes de cobrar boa gestão, é preciso criar condições para isso.
Abram Szajman – FecomercioSP
2016 será uma no de incertezas para comércio e serviços
Em 2016 deverá ocorrer um fato que não era observado desde o início da década de 1930: dois anos consecutivos de retração do PIB. O faturamento do comércio varejista em São Paulo deve registrar queda de 5% em 2016, quando a receita total de vendas deverá se situar no patamar de R$ 500 bilhões. Isso deverá ocorrer porque serão inevitáveis o crescimento do desemprego e o recuo da renda real, além da manutenção dos juros altos. Não se espera que a retomada do crescimento ocorra em 2016. Mas, se no ano que vem houver avanços nas reformas estruturais, na redução da burocracia e da carga tributária, estará aberto o caminho para a recuperação da confiança e a reversão do ciclo recessivo atual. Depende mais da esfera política do que da econômica.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO – B4 Economia TERÇA-FEIRA, 12 DE JANEIRO DE 2016