Em artigo, *Maria Paula Menezes fala sobre mudança de comportamento do profissional de TI
TI e seu futuro. Um assunto que tanto desafia gestores e profissionais de uma área que, ao longo dos últimos anos, tem passado por mudanças e optado por direções por vezes questionadas, postergadas, desacreditadas. Hoje sim, passa a ter uma perspectiva antes vista até com conceitos utópicos; uma realidade que depende de visão aliada à flexibilidade. Visão dos profissionais, das empresas, dos usuários. Ou seja, o conjunto de ideias e valores que geram uma ordem inovadora. Flexibilidade em entender, apostar e acreditar que esta mesma ordem realmente pode acontecer – aí sim chegamos ao grande desafio a ser vencido.
Mas, por que essa mudança de comportamento é tão necessária e demanda tanto esforço para acontecer? Posso dar um exemplo simples. Há vinte anos, a maioria dos profissionais não tinha idéia do que era internet. Registros eram impressos, relatórios feitos à mão. A TI engatinhava enquanto as outras áreas já tinham suas estruturas formadas há anos. Estávamos em uma era analógica e as coisas funcionavam. A novidade era difícil de ser aceita.
Porém, jovens analíticos e visionários encontraram sua fatia da torta e essa história só está começando – hoje quem não tem banda larga em casa, iPad e perfil no Facebook em muitos lugares é um ser de outro planeta. A TI foi tão rápida e passou a ser necessária de uma forma que mesmo quem trabalha com isso às vezes não parou para pensar na velocidade e eficiência fora do comum que mudaram o mundo e a maneira como vivemos. A TI chegou sem bater à porta e passou como um trem, atropelando tudo o que conhecíamos até então.
Nos últimos anos, uma grande tendência para os investimentos de TI era a redução de custos das empresas e diminuição de riscos. O foco em ROI por vezes passou a chamar a atenção de investidores para mais geração de receita – que, em muitos momentos, acabava sendo reaplicada em outras áreas. Missão de TI? Reduzir, enxugar, suportar. O operacional sem estratégia; as entregas sem planejamento; nada disso tinha problema, contanto que TI continuasse a resolver no curto prazo.
Porém, hoje é possível observar uma transição real e que já começa a surtir efeitos. As lideranças de TI e CIOs estão mais suscetíveis a mirar os investimentos no resultado final. Ou seja, a tendência da indústria de TI que, segundo previsões de especialistas do setor, deve movimentar cifras da ordem de US$ 2,5 trilhões em 2011, é correr riscos e apostar em investimentos que gerem valor agregado aos clientes.
Por isso, é fato que em algum momento os CIOs e líderes de TI terão que ser capazes de fazer suas empresas entenderem que a tecnologia é um caminho a ser seguido – e que a opção por postergar investimentos e a adiar a inclusão de Tecnologia em suas áreas estratégicas será duramente impactante para suas companhias. Ao mesmo tempo, estes líderes também precisarão ter talento suficiente para treinar suas equipes a pensar como executivos de negócios, focando em oportunidades para gerar valores e deixando de lado os perfis unicamente técnicos e especialistas que respiram exatas e não conhecem a fundo o que suas empresas fazem ou onde elas querem chegar. A inovação será outra vez imprescindível, tanto tecnológica como conceitual. Será preciso quebrar mais essa barreira.
O perfil comportamental dos profissionais com potencial para suprir esta nova ordem da TI tem características que instigam criatividade e disciplina – opostos que, quando usados em harmonia, são receita de sucesso. A capacidade de persuasão e jogo de cintura chegam a ser muitas vezes uma novidade (e também um desafio) em um mundo de técnicos e analíticos, onde os seus pontos fortes nunca foram comunicação e relacionamento, salvo raras exceções.
Empresas que entendem que inovação e investimento em TI são realmente necessários, hoje buscam perfis com bons conhecimentos de gestão de equipes, administração de finanças, operações, gerenciamento de projetos e serviços. Características como saber lidar com mudanças e manter uma busca incessante por experimentar novos caminhos já são peças fundamentais neste sentido; possuir um sólido network e ter habilidade para negociar com clientes, parceiros e fornecedores também são diferenciais em processos de seleção e que servem de exemplo para os próximos líderes em formação.
Por isso, os profissionais de TI precisam estar empenhados em experimentar novas ideias, trabalhar no desenvolvimento de produtos e buscar maneiras de gerar mais valor e satisfação diretamente aos clientes internos e externos – às vezes antes mesmo de calcular o real custo de se colocar uma iniciativa em prática. Muitos gestores que planejaram sua estruturas primeiro precisaram pensar no conceito e em sua aplicação bem antes de orçar ou avaliar sua viabilidade financeira. Simplesmente porque, se não tivessem budget suficiente, haveria a possibilidade de flexibilização – e muitos deles chegaram a um consenso que atendeu, mesmo que parcialmente, ao projeto inicial e que já ajuda a construir este longo prazo; mas o primeiro passo já foi dado.
O cenário tem perspectivas bem motivadoras – tanto para empresas como para profissionais. E é preciso que todos estejam com energia alta para enfrentar os desafios que estão por vir. Um fator que é bastante requisitado pelas empresas hoje é que os profissionais tenham brilho nos olhos. Isso é o primeiro passo para uma carreira interessante: gostar do que se faz e entender desafios de forma positiva, querer vencer barreiras, ir além. Ter vontade de vestir a camisa da empresa e saber que os valores da organização andam de mãos dadas com seus valores pessoais. E são exatamente estes mesmos olhos brilhantes e motivados que passarão a ter a tão esperada visão da inovação, finalmente aliando-se à flexibilidade da nova ordem da TI.
*Autora: Maria Paula Menezes é especialista em recrutamento da divisão de Tecnologia da Robert Half
Publicação: http://www.itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=75281